Entrevista ao T1 Notícias: Contra o Lockdown, presidente da Unimed suspende cirurgias e anuncia colapso na rede

Entrevista ao T1 Notícias: Contra o Lockdown, presidente da Unimed suspende cirurgias e anuncia colapso na rede

Em áudio enviado ao grupo de médicos da Unimed e que vazou mais cedo para grupos diversos no WhatsApp, presidente da Unimed Palmas escancara situação de colapso na rede privada. Ele confirmou ao T1

A rede privada em Palmas colapsou em virtude das internações necessárias em UTI para pacientes com Covid-19, forçando que a Unimed Palmas suspenda qualquer cirurgia eletiva pelo plano de Saúde que atende e concentre esforços físicos e materiais no enfrentamento da pandemia.

A informação, que circulou desde o começo desta segunda-feira, 1º de março, nos grupos de Whatsapp, é do presidente da Unimed Palmas, o médico Ricardo do Val Souto, e foi confirmada por ele ao T1 Notícias nesta manhã em entrevista.

Contra o Lockdown total, ele sugere que o poder público faça o Lockdown vertical, ampliando o funcionamento do comércio e tomando medidas que preservem os grupos de risco neste momento.

 

Ele critica a falta de preparo com aquisição de equipamentos a tempo e preparação de equipe de intensivistas para este momento: “o que vivemos ano passado é brincadeira de criança perto do que vamos viver agora”, resumiu.

 

Acompanhe os principais trechos da entrevista:

 

T1 Notícias – O senhor confirma a informação do áudio que está circulando? A rede colapsou em Palmas?

 

Dr. Ricardo do Val -  Não posso falar pela rede pública, por que não atuo nela no combate ao Covid-19, mas a rede privada sim. E colapsou dentro de um cenário global. Hoje, só no Hospital da Unimed tenho cinco pacientes com indicação para UTI e a expectativa de desocupar é de apenas três. Goiânia, que sempre foi nossa referência está me pedindo vaga. Itumbiara, Rio Verde, as cidades mais estruturadas do interior de Goiás, também. Este é o retrato do momento.

 

T1 Notícias – O que pode ser feito nesse momento?

 

Dr. Ricardo do Val – Bem pouca coisa. Na verdade quem não tomou consciência da gravidade da situação, precisa entender. Agora é distanciamento social, uso de álcool em gel redobrado, máscaras que garanta a segurança. Este colapso era previsível desde o começo da pandemia. A gente sabia que aconteceria aqui o que aconteceu na Itália, um País de primeiro mundo. Nunca houve tanto tempo e tantos recursos para prever essa situação e tão pouco se fez. Nós fizemos a nossa parte: pagamos respiradores a R$ 100 mil o aluguel, e não utilizamos nenhum. Em janeiro renovei o contrato porque sabia que ia precisar. Em contrapartida, alguns gestores pelo que a gente sabe, desmobilizaram recursos humanos e físicos contra a Covid na rede pública. É a notícia que a gente tem.

 

T1 Notícias -  O Hospital da Unimed não atenderá mais nenhuma cirurgia eletiva?

 

Dr. Ricardo do Val -  Não. Bloqueamos todos os procedimentos eletivos porque não existem respiradores disponíveis fora do atendimento a demanda Covid. A demanda é inesgotável, os recursos hospitalares sim.

 

T1 Notícias -  Qual o principal problema para ampliar leitos de UTI agora?

 

Dr. Ricardo do Val – Houve tempo de sobra para treinar intensivistas. Médico intensivista não brota em árvore. Não temos profissionais disponíveis. Onde vamos encontrá-los a essa altura, se não foram treinados no tempo que houve para este preparo? Nós preparamos o hospital da Unimed, mas tudo tem limite. Estamos agora preparando nossas enfermarias para receber pacientes Covid. O problema é que a demanda não para. As pessoas não param de se aglomerar...

 

T1 Notícias -  O senhor acredita que o Lockdown possa conter essa demanda?

 

Dr. Ricardo do Val – O problema é que essa crise não vai passar rápido. Mesmo com a vacina chegando. Eu sou contra Lockdown total. Só a favor de que se faça um Lockdown vertical. Que os idosos e os que tem comorbidade fiquem em casa. Que os que podem sair para trabalhar saia. Não tem prazo para isso acabar. A vacina contra a Covid é uma meia segurança, mas cria também a falsa segurança. Por que essa vacina se assemelha a do H1N1. Todo ano tem que tomar outra, porque se não você corre o risco de gripar com uma nova variante do vírus. As vacinas contra Covid hoje foram projetadas para a Cepa do ano passado e não para esta. Então, tem que manter o uso do gel, o uso das máscaras e todo cuidado. Mesmo que quem já teve ou já vacinou não volte a desenvolver o sintoma, essas pessoas são vetores de disseminação do vírus.

 

T1 Notícias – Fechar o comércio então não seria a solução, na sua opinião?

 

Dr. Ricardo do Val -  Não. Pelo contrário. Veja, supermercados. O certo é funcionar 24 horas. Se você dilui o tempo, as pessoas não precisam se aglomerar para fazer compras. O comércio normal também eu não fecharia. Pelo contrário, aumentaria o prazo de funcionamento. Vou te dar um exemplo: se eu atender no meu consultório oito horas por dia, é uma lotação. Se eu atender até as 22 horas, o que você acha que acontece? Diminui a aglomeração na minha sala de espera. É uma questão de lógica.

 

T1 Notícias – Está faltando mais consciência das pessoas também em evitar a contaminação e a disseminação do vírus?

 

Dr. Ricardo do Val – Com certeza. A sociedade como um todo tem que entender a gravidade da situação e abraçar esta causa. Do jeito que estamos indo, rapidamente vai faltar UTI e vai começar a morrer gente em casa.